quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A NATUREZA

A NATUREZA
Mariano Ferreira da Costa

01
A natureza exuberante
Estendeu o seu tapete
A festa está preparada
Tem mesas e tamboretes
Somos todos convidados
O ambiente é sagrado
Não venha com cacoetes
02
O tapete estendido
Com a grama original
Verde cor de esmeralda
Reluz como o cristal
O tempo o anfitrião
Carregado de emoção
Com seu grande cabedal...
03
A flora está alegre
Convida o racional
Animal bicho homem
Não nos queira tanto mal
Enfeitamos teu caminho
Com as flores e espinhos
E de Deus o seu aval.
04
Habitantes do planeta
Somos quadro e moldura
Na casa do homem estamos
Do telhado a fechadura
Faltando comida na mesa
Tenha então a certeza
Que levaremos fartura.
05
Nas praças somos jardins
Nas ruas somos canteiros
As goteiras dos telhados
A vassoura no terreiro
A roupa do varal
O palhaço perna-de-pau
A semente no palheiro...
06
No pomar somos os frutos
As árvores e as raízes
A sombra e o frescor
O habitar das perdizes
O balet do beija-flor
Uma carta de amor
Que faz os homens felizes.



07
Sou s voz do cantor
O instrumento do artista
Sou a alegria da festa
O brilho da ametista
O olhar e a emoção
O bater do coração
O verso do repentista...
08
Sou a madeira de lei
A cama do seu descanso
O animal predador
A valentia do ganso
O canário cantador
Uma declaração de amor
Do cansado o remanso.
09
Sou a pedra do caminho
Que o poeta encontrou
O veneno da serpente
O vôo rasante do condor
A flecha na mão do nativo
A liberdade do cativo
Que o patrão lhe negou.
10
Sou o ferro e a corrente
O fole do fundidor
A enxada que corta o chão
Na mão do agricultor
O latido de um cão
Um pássaro no alçapão
O bisturi do Doutor.
11
Sou noite de lua cheia
O poeta trovador
Que improvisa seus versos
Num poema sedutor
Sou as palavras que calam
Os sentimentos que embalam
O coração de amor.
12
Sou o sertão, sou agreste
Sou terra, rocha, rochedo
Sou a coragem do vaqueiro
O boi correndo com medo
Um cachorro acuado
Perdido a trás do gado
A carta e o segredo...






13
Sou campo de milharal
A horta e a verdura
O estábulo e a ordenha
Engenho e rapadura
A cachaça do alambique
Não me venha com trambique
Que a briga ninguém segura...
14
Sou estrada e Caminho
A trilha na aventura
A tapera da estrada
A trinca e rachadura
Sou o tempo que destrói
A mão sábia que constrói
Toda à vida futura...
15
Sou o verde da esperança
Esse pouco que inda resta
A sinfonia das matas
Os pássaros fazendo festa
O remo de uma canoa
Os patinhos da lagoa
O dó ré mi da seresta.
16
Sou noite de tempestade
O estrondo do trovão
O batimento cardíaco
O pulsar do coração
O poeta e a lua
A donzela semí-nua
Explodindo de paixão...
17
Sou o sol e as estrelas
Perdido na amplidão
Um planeta desconhecido
Na galáxia de escorpião
O silêncio do espaço
Lampião rei do cangaço
Gonzaga rei do baião...
18
Sou Antonio Conselheiro
Com as suas profecias
Conduzindo o seu povo
Fazendo as romarias
Andando quase desnudo
Fez o arraial de canudos
No interior da Bahia.






19
Sou padre Cícero Romão
O padim dos nordestinos
Pregando a palavra santa
Aos velhos, jovens, meninos.
Na cidade de Juazeiro
Vem gente o ano inteiro
Procurando o seu destino...
20
Sou a cacimba e o sapo
O pulo de um caçote
A loca de uma pedra
Os dentes de um serrote
A marreta e o martelo
O cabo de um cutelo
O estalo do chicote.
21
Sou as tetas de uma cabra
Alimentando o filhote
O cheiro do bode velho
A força de um garrote
Sou o mourão da porteira
A brasa de uma fogueira
Criança feito magote.
22
Sou o espinho da jurema
Espeto de mandacaru
A racha da baraúna
Lambedor de cumaru
Hortelã da folha grossa
Uma plantação de roça
Guaxinim e cururu...
23
Sou uma vaca amojando
O touro e a cobertura
O bezerro no curral
Queijo, leite de fartura
O vaqueiro aboiando
A bezerrama chegando
O remédio e a cura...
24
Sou passado e presente
Animal em extinção
Sou a árvore e o fruto
A lenha e o carvão
Sou a vida e a morte
Sou o sul e o norteO frevo e o baião.

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