quarta-feira, 24 de setembro de 2008

PARA FALAR DE AMOR
Mariano Ferreira da Costa

01
Para falar de amor,
Consulto o coração
Convido o sentimento
E busco na emoção
No mais profundo do ser
Vejo ele aparecer
Como se fosse um clarão.

02
Os seus raios são de luz
Penetrando as profundezas
Clareando a escuridão
Varrendo toda tristeza
Visitando a saudade
Destruindo a maldade
Como água em correnteza.

03
Para falar de amor,
Peço licença a você
Que sem usar palavras
Faz ele aparecer
Como um raio na amplidão
Na escuridão do meu ser.

04
Para falar de amor,
Muitas cartas escrevi
Poemas eu recitei
Mas, tudo já esqueci
No arquivo do tempo
Como folhas ao vento
Foram embora e não vi.

05
Para falar de amor,
Voltei a minha infância
Fui buscar lá no passado
No arquivo da lembrança
As cantigas de ninar
Minha mãe a acalentar
Quando eu era criança.

06
Para falar de amor,
Consultei uma criança
Com o seu belo sorriso
Fez nascer a esperança
Que amar é presente
O passando é ausente
Registrado na lembrança.
07
Para falar de amor,
Consultei um apaixonado
Preso aos sentimentos
Disse o amor ter achado
Estou preso dentro dela
Essa morena tão bela
Não precisa cadeado.

08
Para falar de amor,
Nas noites me escondi
Olhando para as estrelas
Na mais distante eu vi
Uma fogueira crepitante
Como pedra de brilhante
Nunca mais a esqueci.

09
Para falar de amor,
Busquei na quiromancia
Nos traços de minhas mãos
Uma vidente anuncia
A história de meu destino
E todos os desatinos
Que eu tive algum dia.

10
Para falar de amor,
Li na literatura
Dos poetas românticos
Das mais nobres figuras
Dos vates condoreiros
Viajei o mundo inteiro
E voei lá nas alturas.

11
Para falar de amor,
Pensei que fosse magia
Uma ilusão de ótica
Que o sol da paixão irradia
Mas no silêncio do ser
Só o amor pode dizer
Qual sua filosofia.

12
Para falar de amor,
Recorri a natureza
Que o obstáculo do rio
Não suporta a correnteza
Remove a pedra do leito
Afasta de qualquer jeito
A água não fica presa.


13
Para falar de amor,
Olhei para um jardim
Admirei uma rosa
Conversei com o jasmim
Dialoguei com o tempo
Passeei com o vento
E não cheguei ao seu fim.

14
Para falar de amor,
Busquei na arquitetura
Obras de cimento e cal
A expressão da cultura
Mas nas disso é eterno
Não suporta o inverno
Aumentando as ranhuras.

15
Para falar de amor,
Ouvi com muita atenção
A vos dos grandes poetas
Recitando no salão
Levados pelos aplausos
Os contadores de causos,
Inflamando a multidão.

16
Para falar de amor,
Li num receituário
Que este sentimento único
Percorre caminhos vários
Não só no homem reside
Mas, só ele em quem decide
Para o homem o seu páreo.

17
Para falar de amor,
Ouvi belas pregações
Nas noites e madrugadas
Os inflamados sermões
Dos maiores oradores
E exímios pregadores
Sacudindo as emoções.

18
Para falar de amor,
O teatro eu freqüentei
As belas interpretações
Uma a uma eu sondei
Aplaudi muitos artistas
E nas capas das revistas
O amor eu não achei.


19
Para falar de amor,
Fui a muitos festivais
Da música e da canção
Saber quem canta mais
O amor que a canção canta
Só o sentimento encanta
E no coração não vai.

20
Para falar de amor,
Decorei muitos sonetos
De Vinícius, o poetinha,
E Drumond, bate no peito
Mas, foi Fagundes Varela
Que abriu uma janela,
Me deixou quase sem jeito.

21
Para falar de amor,
Augusto deu uma dica
Que esta grande mentira
Nem mesmo Freud explica
Que amizade verdadeira
Só existe na caveira
Que no cemitério fica.

22
Para falar de amor,
Muita gente enlouqueceu
Os poetas mal do século,
Todo vinho já bebeu
Recitando na noite fria
Entregando-se a nostalgia
O amor não apareceu.

23
Para falar de amor,
Freqüentei as galerias
As belas obras de artes,
Naquelas paredes frias
Aquarelas e afrescos
Não me deu o endereço
Do amor que existia.

24
Para falar de amor,
Fui vaqueiro e peão
Montei em cavalo bravo.
Percorri todo sertão,
A traz da mulher amada
Enfrentei muitas paradas
Montado no alazão.

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